GILBERTO ROSO MAHLE [1] |
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1. INTRODUÇÃO Para a realização dessa pesquisa foram analisadas atas, constituições, documentos oficiais, livros, pesquisas e documentários históricos. A pesquisa foi desenvolvida com base em um referencial teórico cultural, que inclui autores estrangeiros, como David Stevenson, Roger Dachez, C.W. Leadbeater, Alain Bauer, Michel Barat, Robert Lomas, W. Kirk MacNulty, Andrew Prescott, John Hamnill, Jéssica Harland-Jacobs, Robert Cooper, Ewan Rutherford e também autores nacionais como José Castellani, Rizzardo da Camino e Vanildo de Senna, entre outros. Através do trabalho realizado será possível estudar as contribuições e influências da Maçonaria na História Geral e fazer novas interpretações com relação aos atos e acontecimentos realizados pelos membros da Ordem, individualmente ou em conjunto.
Os estudiosos e pesquisadores maçônicos, via de regra, dividem a história da Maçonaria em três períodos[2]: Maçonaria Primitiva; Maçonaria Operativa; e Maçonaria Especulativa. A Maçonaria Primitiva, ou "Pré-Maçonaria", como entende André Chédel, citado por Senna[3],
O tradutor da obra[4], o maçom J. Gervásio de Figueiredo, faz a seguinte referência sobre a mesma:
Segundo o autor[5], a partir dos Mistérios Egípcios que eram ensinados dentro das Escolas Iniciáticas, e através dos sacerdotes nelas iniciados, originaram-se também as Escolas de Mistérios Cretenses, Judaicos, Gregos e Mitraicos. Essa difusão de ensinamentos e expansão dos mesmos pelo mundo, por entre os povos e nações é que originou a divisão de ritos citada pelo maçom J. Gervásio de Figueiredo. Sendo assim, com a disseminação dos Mistérios pelo mundo, cada povo, cada nação, sem fazer perder a essência dos ensinamentos recebidos, “coloriu” e particularizou esses ensinamentos de acordo com a sua cultura, enriquecendo simbolicamente as Ordens Iniciáticas que continuaram a conceber sábios sacerdotes. Os iniciados de cada nação também percorreram o mundo, e ao se defrontarem com Escolas de Mistérios diferentes das suas e já particularizadas, “mesclaram” novamente os ensinamentos antigos e deram origem a outras Escolas Iniciáticas, a algumas se refere Leadbeater como sendo as escolas de “Mistérios Druídicos”[6], os “Colégios Romanos”[7], e também os “Culdeus”[8]. Para MacNulty[9]
Nesse sentido, refere Leadbeater[10] que
O autor[11] também faz a referência de que “pelo ano 423 d.C. se tornaram mais severas as penalidades contra os que ativessem às antigas crenças...”. E Leadbeater[12] refere ainda que,
Tal questão é a falta de documentos maçônicos autênticos que datem do período anterior ao século X, sendo que o documento, considerado maçônico, mais antigo de que se tem registro é a Constituição de York[14] de 926 d.C., a qual refere-se à uma irmandade de mestres, aprendizes e companheiros que devem reconhecerem-se através de sinais particulares e ajudarem-se mutuamente, o estes que são alguns dos princípios básicos da Maçonaria. Algumas considerações que justificam a ausência de documentos são: primeira, pelo fato de as tradições e instruções serem passadas de “boca a orelha”, tendo-se em conta que muito poucos eram os que dominavam a escrita naqueles tempos. Segunda, pelo desejo de se manter o sigilo e o segredo das atividades que eram passadas somente aos escolhidos e a ninguém mais, mantendo-se a tradição iniciática das Antigas Escolas. E terceira, o fato de que a Maçonaria, sendo considerada uma Escola de Livres Pensadores, fez com que ela tivesse inimigos poderosos, como o clero e a monarquia, onde o pensar e o questionar eram proibidos para todos aqueles que não estivessem no poder clerical, ou no poder absolutista da monarquia. Em meio a um vazio documental digno de crédito faça a associação da Maçonaria Operativa (dos construtores de templos e arquitetos) à Maçonaria Primitiva (dos sábios sacerdotes), “fantasistas criaram os mais diversos tipos de histórias e lendas sobre as origens da Maçonaria”[15] . Uma das histórias inventadas seria de que a Maçonaria teria se originado da antiga Ordem dos Templários, criada pelo maçom escocês Chevalier Ramsey, através de estudos equivocados, ao que se verifica, a Ordem do Templo em todas as suas possessões tinha pedreiros livres a seu serviço. Vendo que os Templários tiveram proximidade com os antigos construtores, que eram fundamentados no sincretismo hermético, Ramsey, na tentativa de enobrecer a Maçonaria, que vinha de homens simples, teria divulgado entre os maçons uma história de descendência dos Templários. Essa história foi bem aceita entre os maçons e difundida por muito tempo como verdadeira, porém, segundo Roger Dachez do Institute Maçonique de France, a origem maçônica vinda dos Templários é improvável e incomprovada. A partir do século X, também encontramos diversas atas, constituições e até pinturas que se referem à Maçonaria. Entre os documentos considerados mais importantes e seguindo uma linha cronológica estão: a Constituição de York (926), a Carta de Bolonha (1248), o Manuscrito de Haliwell (1390), o Manuscrito de Cooke (1410-1425), as Constituições de Estrasburgo (1459), os Estatutos de Ratisbona (1498) – os Estatutos da Associação de Talhadores de Pedras e Pedreiros, o Manuscrito da Grande Loja N° 1 (1583), os Estatutos de Schaw (1598-1599), Os Antigos Deveres: Manuscrito de Índigo Jones – A Antiga Constituição dos Maçons Livres e Aceitos “Old Charges” (1607), o Regulamento de 1663, o Manuscrito de Edimburgo (1696), o Manuscrito de Dumfries N°4 (1710), o Manuscrito Kewan (1714-1720), a Constituição de Anderson (1723), A Instituição dos Franco-Maçons (1725), o Manuscrito Graham (1726), A Maçonaria Segundo as Escrituras (1737), as Modificações Inglesas de 1738 e de 1813, o Diálogo entre Simon e Felipe (1740), o Manuscrito de Essex (1750), e Os Landmarks de Mackey. Alguns dos documentos citados são referentes às Guildas de trabalhadores construtores de templos dos séculos XIII e XIV e que seriam posteriormente a chamada Maçonaria Operativa. E segundo Naudon[16], tais Guildas são derivadas dos Colégios Romanos e também dos Galo-Romanos, e originaram as primeiras Associações Monásticas dos Construtores. Essas associações, sob a forma de confrarias laicas ou de Guildas, tinham aspecto ritualístico e religioso herdado das Antigas Escolas. Stevenson[17] comenta que,
O Manuscrito Regius[18], segundo informações, teria sido escrito em torno do ano de 1390 em uma associação como a das Guildas e encontrado no Museu Britânico por volta de 1840 por James O. Halliwell. O documento faz citação à fundação da Maçonaria Egípcia por Euclides e à introdução da mesma na Inglaterra, sob o reinado de Athelstan. O manuscrito está escrito na forma de poema e revela em um de seus trechos,
Existe um documento escrito na Itália por uma associação parecida, é chamado por Carta de Bolonha[20], e tem praticamente os mesmos princípios da Constituição de York, falando sobre deveres e direitos de mestres e aprendizes, condizendo com a atual organização maçônica. Convém dizer também que a Maçonaria tida como operativa, tinha em seu meio quase que somente pedreiros e arquitetos, porém, mantinha sempre contato com nobres e funcionários de reis e governantes que os contratavam. Motivo este que fez com que esses homens desde sempre, segundo Stevenson[21], fossem iniciados naqueles rituais de taverna que os pedreiros livres haviam recebido de ensinamento pelos lugares onde passaram. Pelo motivo de que outras classes sempre foram iniciadas nos Mistérios da Maçonaria, e não só a classe dos construtores, é que o termo Maçonaria Especulativa, assim usado para diferenciar da Maçonaria Operativa, que em tese só aceitava construtores, está sendo reavaliado e precisa ser revisto. Por outro lado, foi só quando William Schaw, em 1598, na Escócia organizou a Ordem como a conhecemos hoje. A partir desse momento que os maçons não construtores passaram a tornar-se maioria na Maçonaria. Quando Sir Robert Murray, um militar, iniciado em 1622 na Loja escocesa Mary Chapel nº1, uma das Lojas mais antigas de que se tem conhecimento, e o antiquário e alquimista Elias Ashmole, iniciado em 1646, é que o destino da instituição maçônica teria mudanças. Murray era um estrategista e entusiasta da ciência, e usando dos ensinamentos que a Maçonaria lhe dispôs, fundou juntamente com Elias Ashmole na Inglaterra a Royal Society (Real Sociedade), que passou a reunir homens com disposição ao experimento científico e aos contatos políticos. A importância, segundo Alain Bauer[22], da Real Sociedade, foi de ter como seus membros alguns nomes ilustres como Isaac Newton, Charles Darwin, Jean Teofille Desagulier. Desagulier foi o segundo Grão-Mestre da recém criada Grande Loja de Londres (1717), e se intitula até os dias atuais como a detentora do poder maçônico mundial por ser a primeira a se organizar de uma forma onde todas as Lojas respondem a um centro de comando, o que nas Lojas escocesas não acontecia, embora mais antigas. Em uma visita à Escócia conheceu a Loja Mary Chapel nº1 e teve acesso à antigos documentos de Schaw. Ainda na Escócia, Desagulier conheceu James Anderson, um pastor protestante e maçom escocês, que de acordo com Andrew Prescott[23]
Para muitos maçons e curiosos é de costume acreditar na história que lhes é contada, na maioria das vezes, sem fundamentação nem comprovação. E assim se sucedeu durante muito tempo falsas verdades que hoje os historiadores vêm para modificar e refaze-las através do estudo das culturas e da História documentada. A temática abordada é de difícil correlação pela falta de documentos e das diversas possibilidades em via disso. Mas não serão os Mistérios maçônicos uma das coisas que mais intrigam o Homem? E não será o estudo das origens da Maçonaria uma forma de descobrir a origem vários acontecimentos importantes, desde a Idade Antiga até os dias de hoje? 3. REFERÊNCIAS BAUER, Alain, O Nascimento da Franco-Maçonaria: Isaac Newton e os Newtonianos. São Paulo: Madras, 2008. BOURLAND, Tristan. SMET, François De. Filme documentário: As Origens da Maçonaria – Investigação Científica. National Geographic – 2007. Título original: The Scottish Key – An Investigation into the origins of freemansonry. CAMINO, Rizzardo da. As Origens Históricas da Mística Maçônica. São Paulo: Landmark, 2005. CASTELLANI, José. A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações. 2ª Ed. São Paulo: Traço Editora, 1980. CASTELLANI, José. A Maçonaria na Década da Abolição e da República. São Paulo: Editora A Trolha, 2001. LEADBEATER, C.W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo: Editora Pensamento, 1968. LOMAS, Robert. A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna: o colégio invisível. São Paulo: Madras, 2007. MACNULTY, W.Kirk. Maçonaria: uma jornada por meio do ritual e do simbolismo 2ª Ed. São Paulo: Madras, 2008. NAUDON, Paul. Les origines religieuses et corporatives de la Franc-Maçonnerie. Paris: Dervy-Livres, 1964. SENNA, Vanildo de. Fundamentos Jurídicos da Maçonaria Especulativa, Rio de Janeiro: Ed. Maçônica, 1981. STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria: O Século da Escócia (1790-1710) São Paulo: Madras, 2009. |
NOTAS | |
[1] | Acadêmico do Curso de História da Universidade Luterana do Brasil, Campus Torres, RS. Aluno da disciplina de Pesquisa em História turma 2011/2. |
[2] | http://pt.wikipedia.org/wiki/Maçonaria |
[3] | SENNA, Vanildo de. Fundamentos Jurídicos da Maçonaria Especulativa, Rio de Janeiro: Ed. Maçônica, 1981, p.7. |
[4] | LEADBEATER, C.W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo: Editora Pensamento, 1968, p.9. |
[5] | Ibid, p.7. |
[6] | LEADBEATER, C.W. op. cit., p.157. |
[7] | Ibid., p.140. |
[8] | Ibid. |
[9] | MACNULTY, W. Kirk. Maçonaria: uma jornada por meio do ritual e do simbolismo. 2ª Ed. São Paulo: Madras, 2008, p. 104. |
[10] | LEADBEATER, C.W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo: Editora Pensamento, 1968, p.151 e p.152. |
[11] | Ibid. p.152. |
[12] | Ibid. |
[13] | Começo do séc. XVI. |
[14] | Citada no Manuscrito de Haliwell (Regius Poem), British Library – Royal Manuscript Collection. |
[15] | STEVENSON, David. Filme documentário: As Origens da Maçonaria – Investigação Científica. National Geographic – 2007. Título original: The Scottish Key – An Investigation into the origins of freemansonry. |
[16] | NAUDON, Paul. Les origines religieuses et corporatives de la Franc-Maçonnerie. Paris: Dervy-Livres, 1964. |
[17] | STEVENSON, David. Filme documentário: As Origens da Maçonaria. op. cit. |
[18] | Manuscrito de Halliwell ou Poema Regius – Desde 1757 no Museu Britânico. |
[19] | (Athelstan ou Athelstane, rei saxão que reinou entre os anos 925 e 939). |
[20] | Originalmente escrito Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamiis foi redigido originalmente em latim por um escrivão público de Bolonha, a partir das ordens do prefeito de Bolonha, Bonifacii di Cario, no dia 8 de agosto de 1248. O original é conservado atualmente no Arquivo de Estado de Bolonha, Itália. |
[21] | STEVENSON, David. Filme documentário: As Origens da Maçonaria. op. cit. |
[22] | BAUER, Alain, O Nascimento da Franco-Maçonaria: Isaac Newton e os Newtonianos. São Paulo: Madras. 2008. |
[23] | PRESCOTT, Andrew. Filme documentário: As Origens da Maçonaria – Investigação Científica. National Geographic – 2007. Título original: The Scottish Key – An Investigation into the origins of freemansonry. |
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